Os Inseparáveis 2-

 
A viagem, como era de prever, decorreu sem contratempos, excepto a falta de comida. Depois de fazerem escala nas duas ilhas que se lhes atravessavam no caminho, os três, puderam perceber no horizonte uma linha negra que representava aproximação das terras abundantes – em todos os sentidos – da Pátria de S. Luís.
 
Por fim, o barco sulcou a praia. Tudo estava deserto, a areia, perfeitamente lisa, denunciava a não existência de seres vivos. As areias reflectiam com intensidade, a luz dourada do astro rei, já em declínio, no seu governo despótico.
 
Desembarcaram. O entusiasmo com que esperavam receber novas terras, desvaneceu-se perante a quantidades de dunas que se estendiam a perder de vista. Manuel não se conteve:
 
– Irra! Desertam três sicilianos, para irem servir a Europa e salvá-la das mãos de Hitler, para serem recebidos por um deserto!
 
E deixou-se cair, desalentado.
 
Mas estes sentimentos não os podiam absorver eternamente e todos se dispuseram a procurar uma solução, para o seu problema. Cada um alvitrava uma maneira de saírem dali:
 
– Eu acho, que o melhor é andarmos para o interior, pois este mar da areia, sempre há-de ter fim. Sim, porque tudo tem fim e de certeza absoluta, que alguma aldeia encontraremos. – opinava António.
 
– Não – contrariava o primo – se caminharmos ao longo da praia, mais depressa encontraremos alguém, que nos indique como devemos proceder.
 
– Mas, olha lá! Se tu queres caminhar, ao longo da praia, não será mais confortável irmos de barco – proponha o último – e além disso pode-te aparecer algum rochedo.
 
– Ora, aqui não há rochedos!
 
– Nunca se sabe!…
 
– De qualquer maneira, eu prefiro ir para o interior.
 
– Com que então, vossa excelência quer caminhar pelas areias fora, sem pinga da água, e sem um grama de comida!?
 
– Tem paciência, mas no interior é que estão os campos de frutos e cultivo e não na costa.
 
– Mas o que nós pretendemos, é chegar a um aglomerado.
 
– Pronto, está bem!
 
– Então, estamos de acordo?
 
– Contigo evidentemente! Não sei porquê mas convences-nos sempre!?
 
Sim, realmente como era hábito Manuel tinha vencido a questão graças à sua fertilidade de argumentos e à influência que a sua opinião exercia sobre os outros. O mais frágil dos três tinha sobre os restantes o mesmo número de vantagens: a sua maior agilidade, maleabilidade e valor de alvitração. Como tal, passou à activa:
 
– Paulo, ajuda-nos a empurrar o barco. António salta lá para dentro e levanta o mastro. Upa! – E dum salto Manuel pulou para o interior da «banheira» como eles quando ociosos e brincalhões lhes chamavam. Brevemente ela navegava, vela enlufada e excessivamente rápida, para a sua qualidade de reles «banheira».

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